Triatleta vegetariano – ajuda ou atrapalha?

Depois da enorme polêmica sobre a queda de performance de Lionel Sanders (de novo) no IronMan Kona há algumas semanas atrás, a pergunta freqüente é: Aconteceu porque ele mudou radicalmente a dieta neste ano? Foi porque ele se tornou vegetariano? Mas o primeiro lugar de Kona este ano (Patrick Lange) não é vegetariano? E aí? Afinal, vc melhora ou piora a performance quando deixa de comer carne?

Não entrando aqui em questões filosóficas ou ambientais, vou escrever apenas a minha visão como nutricionista sobre a carência de proteína animal na performance.

Acho que uma boa forma de entender o que vou explicar é não olhar, neste momento, o alimento em si, mas sim o que será absorvido a partir de quando aquele nutriente chegar no intestino. Nenhum alimento é absorvido na sua forma macro. Todos eles são “quebrados” até a menor forma possível. Então, não importa o carboidrato que vc ingere, ele será absorvido na forma de monossacarídeos; Não importa a proteína, ela será absorvida na forma de aminoácidos; Não importa a gordura, ela será absorvida na forma de ácidos graxos.

Então, quando ingerimos um alimento, ele está na sua forma “macro”. E, conforme vai passando pelo sistema digestivo, este vai se encarregando de deixá-lo na sua forma “micro”, para que esteja pronto para ser absorvido e começar a “fazer a sua função” no corpo.

Entendido isso, podemos voltar para a questão do vegetariano. O maior problema neste caso é garantir fontes suficientes de proteína e que estas tenham todos os aminoácidos essenciais. Quando ingerimos proteína animal é mais fácil de ter essa garantia (de que estamos ingerindo todos os aminoácidos essenciais). O vegetariano deve fazer combinações mais certinhas, pois algumas proteínas vegetais carecem de alguns aminoácidos que devem ser compensadas com outros alimentos.

Ainda mais quando se trata de triatleta, a preocupação com estas fontes protéicas aumenta, pois a grande carga de treinos diários gera micro lesões nas fibras musculares (normais da atividade) que devem ser diariamente regeneradas. Ou seja, maior quantidade protéica é requerida em algumas fases.

Mas é possível fazer tudo isso de forma vegetariana ou não! A escolha é do atleta! Cabe ao nutricionista adaptar o plano para que toda a demanda tanto protéica quanto de carbos e gordura diária seja atingida. È isso que importa.

Vantagem que pontuaria com a alimentação vegetariana é que o atleta ficará muito mais atento ao que ingere e com isso, provavelmente terá uma alimentação bem mais limpa, saudável e com mais fontes de verduras e legumes.

A grande desvantagem seria não pode variar muito o cardápio. Algumas combinações deveriam ser “fixas” ou a alimentação poderá carecer de algum aminoácido fundamental. Além disso, algumas vitaminas devem ser acompanhadas mensalmente havendo grandes chances de ter que usar algumas na forma de cápsulas (ou injeção), como especialmente a vitamina B12.

Voltando agora ao caso do Sanders; eu desconheço a dieta dele. Só ouvi mesmo os relatos do próprio e, pelo que pude entender, o erro grave foi ele mesmo fazer a sua própria dieta e seu treino. Provavelmente faltaram nutrientes ali.

Julia Engel

Nutricionista Pós graduada em Nutrição Esportiva UFRJ | www.juliaengel.com.br