Sergio Marques, triatleta português com 49 provas de Ironman

Sergio Marques tem 49 provas na distância Ironman e é o triatleta português mais experiente e vitorioso na distância

Ele foi o primeiro amador a cruzar a linha de chegada no Ironman Havaí 2019, vencendo a categoria 35/39 anos em 8h35min12s e ficando em 30º lugar geral. Já tem 18 anos como triatleta e 49 provas da distância Ironman no currículo, sendo oito em Kona. Conheça um pouco mais sobre o português que foi profissional de triathlon por 15 anos, mas que tem seu foco agora na construção civil e no estilo de vida que é apaixonado, o triathlon de longa distância.

Você começou aos 21 anos, em 2001, pelo duathlon. Como surgiu o interesse?
Eu era zero de natação. Antes de ser triatleta eu era remador, e antes de remar era gordo, pesando quase 20kg a mais do que tenho hoje, que são 67kg. Cheguei a competir no remo, mas depois fui cursar Engenharia Civil e existia uma equipe de triathlon na Universidade, onde ingressei e conheci o trinador Paulo Souza. Eu já admirava o Ironman desde 1998/99, quando acompanhava a prova de Kona pelo canal de TV Eurosport. Achava incrível o desafio. Coisa de maluco! Então entrei no triathlon realmente para fazer o Ironman, eu nem sabia o que era distância olímpica. Não pensei de cara em ser competitivo naquilo.

Qual foi sua primeira prova de triathlon e que recordações traz dela?
A primeira prova que fui fazer foi um Super Sprint, com distância de 375mts de natação, 10km de bike e 2,5km de corrida, e acabei abandonando, pois ainda não sabia nadar bem e água estava muito fria, mas mesmo assim, insisti nos treinos, pois o que eu queria mesmo era fazer o Ironman. Dois anos depois já alinhava para largar em meu primeiro Ironman, na Flórida, e já como profissional, por insistência do Paulo, meu treinador à época. Fiz 8h45min e fiquei em 7º lugar geral. Lembro-me que a prova foi vencida pelo alemão Timo Bracht.

Você levou 10 anos para obter sua primeira vitória na distância Ironman. Como aconteceu?
Foi isso mesmo! Eu venci o Challenge Barcelona em 2012 (que veio a se tornar Ironman Barcelona), fazendo 8h05min e correndo a maratona para 2h39min. Foi um dia perfeito!

Quando sentiu que era hora de deixar de ser Profissional?
Fui profissional até 2016, depois de uma regra que eu impus a mim próprio, que era: ‘No ano que gastasse mais dinheiro com o triathlon do que ganhasse, seria o momento de deixar de ter o esporte como profissão’, e assim aconteceu nesse período, além dos valores das premiações em dinheiro também terem diminuído muito. Não pode ser assim. Eu nos últimos dois anos fiz o Ironman Lanzarote como amador, mas ainda observo a premiação oferecida aos profissionais. É ridícula! O campeão, por exemplo, ganha US$ 5.000, e a prova premia até o 6º colocado, que recebe somente US$ 750, e ainda tem que descontar os impostos! A conta não fecha…

Enquanto Profissional, você já trabalhava na Construção Civil?
Enquanto fui universitário, eu realmente só treinava e estudava. Em 2007 abri uma loja de bicicletas e fiquei quatro anos nisso, já conciliando com o triathlon profissional. Em 2012 corri meu último Ironman Hawaii como PRO e a partir daí comecei a trabalhar na área de Construção o tempo inteiro, mas mesmo assim ainda larguei mais quatro anos no Profissional, só que as responsabilidades aumentaram muito no trabalho, então mudei o foco, e ser profissional de triathlon não valia mais a pena.

Como foi essa transição de PRO para amador?
Foi muito fácil. Eu gosto muito de treinar. Gosto de fazer triathlon! Gosto muito de distância longa! Pra mim foi apenas a troca de um nome, de ser chamado de “PRO” para “Amador”. Não tive dificuldade alguma com isso.

Você já fez 49 provas de Ironman, sendo oito no Hawaii. Qual vai ser a 50ª?
Eu estou pensando até em fazer o próximo Ironman Brasil. Em 2007, como PRO, eu viajei para competir em Florianópolis, mas minha bike não chegou e não pude correr… e o pior, ficou sumida por três meses! Por ter vencido minha categoria agora no Mundial, já tenho vaga direta para 2020, mas eu não consigo esperar, quero fazer outro Ironman antes. Ano que vem teremos pela primeira vez um Ironman “full” em Portugal, o problema é que será duas semanas antes de Kona, então ainda não sei o que vou fazer, pois gostaria muito de participar da estreia da prova no meu país, na minha cidade. Quando fui profissional, naquela loucura atrás de pontos para o ranking, cheguei a fazer três provas de Ironman em um mês, França, Zurique e Frankfurt, mas eram outros tempos…

Alguma destas 49 provas ficou marcada para você de maneira especial?
Definitivamente foi meu primeiro Ironman, na Flórida, e minha primeira vez no Hawaii, em 2005. Esse ano foi muito bom, pois o Mundial de Olímpico havia sido pouco antes em Honolulu, então vários triatletas amadores portugueses foram a Kona assistir o Ironman e torcer por mim, que era o único profissional de Portugal na prova. Eu tive um verdadeiro exército português vibrando por mim.

Kona 2019 em 8:35:12. Parciais de 58:51 de natação, 4:37:55 de bike e 2:53:19 de corrida. Tem algo a se ajustar nessa prova?
Não podia ter sido melhor! A natação até poderia ser um pouco superior, mas nunca passei por tanta ‘briga’ dentro da água, pois o grupo líder estava muito coeso e ninguém queria puxar. O ciclismo foi até melhor do que eu esperava, pois não me sentia tão forte como ano passado. Este ano também não foi tão difícil. Eu já passei por anos lá de ser arremessado para fora da bike. Eu sinto que ganhei a prova na bicicleta, pois na corrida assumi a ponta logo no começo.

Como é essa logística e divisão com o trabalho na construção civil?
Eu moro em Lisboa, que é a capital e maior cidade de Portugal. Meu horário é todo programado. Nado de três a quatro vezes por semana – de 2,5 a 3km por sessão – no Jamor, um excelente Complexo Desportivo ao lado da minha casa. Entro na piscina exatamente às 6h da manhã e tenho que sair no máximo dos máximos às 7h05 da água, pois tenho que estar dentro do meu carro às 7h15 para, em seguida, entrar 7h30 no meu trabalho. O ciclismo e/ou a corrida eu faço ao final da tarde. No verão ainda consigo pedalar na rua, pois tem luz até umas 20h30, mas no inverno geralmente faço treino no rolo. Penso, no máximo, que no total treino umas 22 horas por semana, conseguindo conciliar com trabalho e vida social.

Já pensou em fazer um Ultraman?
Já! Por enquanto não, mas está guardada a intenção aqui comigo.

Como é o momento atual do triathlon em Portugal?
No nível da distância longa está um verdadeiro ‘Boom’. Com o recente anúncio do Ironman Portugal Cascais (full) está uma histeria. Há uns dez anos haviam eu e mais cinco ou seis pessoas que faziam Ironman. Esse crescimento é demais! Quanto a atletas, temos, entre outros, o Pedro Gomes, o José Estrangeiro – que foi campeão mundial Junior de Duathlon, batendo Alistair Brownlee e Richard Murray – e o Filipe Azevedo, que acabou de vencer o Ironman 70.3 Shangai e ano que vem deve correr Ironman também. Temos muito jovens nas distâncias mais curtas também, e os que têm perspectivas de irem aos Jogos Olímpicos possuem apoio e estrutura da Federação de Triathlon Portuguesa.

Que dicas pode dar para um amador que tem aspirações competitivas no Ironman?
O fundamental é gostar de treinar. Para completar uma prova, ok, dá para se fazer. Agora, para ser competitivo, tem que gostar do dia a dia, do treino. É um estilo de vida. Para quem trabalha, que é o meu caso, tem que ter regras. Tem que haver compromisso e fazer opções. Isso eu considero fundamental para quem estabelece objetivos no Ironman. Talvez essa meia hora que o atleta deseje baixar em seu tempo exija muito esforço. Pra mim não é problema porque eu gosto muito, por isso já estou há 18 anos.

BIO
Nome: Sergio Marques
Idade: 39
Tempo de triathlon: 18
Altura: 1.75m
Peso: 67kg
Roupa de borracha: Zoot (bem velhinha…)
Óculos de natação: Qualquer um da Decathlon
Bike: Trek Speed Concept
Capacete: Giro Aerohead
Sapatilha: Giro Empire
Tênis de corrida treino: Zoot ou Nike
Tênis de corrida competição: Nike Vaporfly 4%
Óculos de sol: Proframes
Treinador: Hélder Milheiras
Equipe: CNATRIL
Patrocínio/Apoio: Não possui

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