Poderíamos ser bem melhores senão quiséssemos ser tão bons

Até que ponto temos que vencer a qualquer custo?

Vença, conquiste e seja o melhor a qualquer custo.

As palavras de Freud, “poderíamos ser melhores se não quiséssemos ser tão bons" nos leva a refletir sobre esses imperativos tão marcantes no cenário esportivo interferem na cultura atual.

Esse imperativo da civilização para sermos “melhores" do que a nossa constituição nos permite geralmente resulta em muito sofrimento psíquico. Quando tomamos “ser o melhor" como uma regra absoluta, somos incentivados a nos apresentar no social como pessoas completas – e não como realmente somos, como nossos medos, falhas e fraquezas. Caímos numa ilusão perfeccionista de si mesmo e quando quando nos damos conta disso nos sentimos um verdadeiro fracasso!

Claro que o espírito competitivo é o que move muitos atletas no esporte, mas propor a si mesmo a necessidade de sempre ser o melhor pode te impedir o reconhecimento de si mesmo e do outro. O problema não é sermos melhores do que as nossas capacidades permitem, mas sermos como os outros querem que sejamos. Sofremos por não corresponder às expectativas que os outros tem de nós pelo simples fato de querer ser o que na realidade não somos ou nem sabemos se é isso mesmo que queremos ser.

Mas quando podemos refletir sobre as próprias falhas, medos e fraquezas, compreendemos também os próprios valores e daquilo que precisamos para ser melhor a cada dia. Reconhecemos a importância dos afetos, das nossas relações com o mundo e com o nosso próprio desejo. E é isso que há de mais essencial numa psicanálise, seja no esporte ou em qualquer outro lugar: descolar do desejo do Outro, da civilização, para se deparar com o seu próprio desejo e seus próprios valores.

Como indaga Lacan: e você, age conforme o desejo que te habita?

Paula Figueira
Psicóloga
@paulafigueirapsi

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