O consumo de carboidratos é essencial para a prática esportiva?

Atletas de longas distâncias começam a desmistificar esse conceito

Segundo o médico, diretor-presidente da Associação Brasileira Low Carb (ABLC), José Carlos Souto, trata-se de (pré)conceito amplamente difundido que o consumo de carboidratos é essencial para a prática esportiva, porque através deles se ingere glicose, macronutriente responsável e alguns dizem imprescindível por gerar e repor a energia gasta na atividade física. Entretanto, alguns atletas de alta performance têm ajudado a desmitificar essa visão.

Recentemente, por exemplo, o triatleta Alessandro Medeiros, que pratica provas de resistência aeróbia de longa duração há mais de 20 anos, foi o primeiro atleta do mundo a percorrer um trajeto de 160 quilômetros, em cerca de 20 horas, adotando uma dieta com zero carboidratos e em jejum. O feito ocorreu no último mês de setembro, no estado da Flórida (EUA), onde reside. Antes, em 2019, ele já havia se tornado o primeiro atleta a participar de um Mundial de Ultraman – realizado no Hawaii – adotando uma estratégia alimentar cetogênica, ou seja, com baixíssima quantidade de carboidratos.

José Carlos Souto esclarece que, praticar esportes de alta performance ingerindo de forma regular pouco ou nenhum carboidrato é possível porque o ser humano está apto fisiologicamente a usar também gordura para a produção de energia. De acordo com Souto, a gordura, aliás, é uma melhor fonte, devido à capacidade do corpo ser maior em armazená-la do que a glicose. “O organismo humano apresenta apenas o fígado e os músculos como depósito de glicose, sendo o tecido adiposo um tanque muito mais expansível”, afirma.

Souto explica que o corpo humano tende a utilizar mais glicose para gerar energia porque está acostumado com isso. “Existe um fenômeno que chama oxidação recíproca de substratos. Quando nós temos bastante glicose, o corpo oxida glicose e não gordura. Quando nós temos bastante gordura e pouca glicose, acontece o inverso. Mas se os dois estiveram disponíveis em quantidade iguais, a prioridade vai ser da glicose, porque o corpo sempre tem onde armazenar a gordura”, define.

Isto é o que ocorre com atletas. Eles são orientados desde sempre a ingerir carboidratos para repor as energias, – diretrizes desportivas sugerem o consumo de seis a dez gramas de carboidrato por quilo de peso – por isso utilizam glicose e não gordura para realizar os processos metabólicos. Para alterar tal condição, basta apenas acostumar o corpo de quem pratica atividade esportiva a utilizar ácidos graxos (gordura) no lugar de glicose, tornando a ingestão de carboidratos desnecessária.

Foi o que fez Medeiros, quando resolveu restringir severamente a quantidade de carboidratos de sua dieta, com a orientação de uma nutricionista. Conforme o atleta, em um primeiro momento sentiu falta de energia para realizar os treinos de maneira adequada. Numa tentativa posterior, a prática esportiva se tornou mais fluida, natural e Medeiros começou a sentir os benefícios físicos de uma dieta com baixa ingestão de glicose.

Antes, ao ingerir grande quantidade de carboidratos para repor as energias despendidas em provas extremas e de longa duração, Medeiros sentia inchaço abdominal, diarreia, tonturas, picos e quedas de energia, vômitos, dores musculares por dias e fadiga extrema nos dias posteriores ao exercício físico intenso. Após a mudança para um dieta com baixíssima quantidade de carboidrato, o atleta percebeu que sua recuperação pós treino havia se tornado extremamente rápida e as dores musculares praticamente desapareceram. No dia a dia, a sensação de bem estar também foi detectada através da melhora na qualidade do sono, da boa disposição durante todo o dia e da clareza mental.

Os impactos positivos impulsionaram Medeiros a correr os 160 Km sem o uso de suplementos (carboidratos e açúcar) e em jejum metabólico. “Quando o atleta está adaptado a uso da gordura como fonte de energia, ele se torna uma ‘máquina eficiente’”, afirma o ultramaratonista, que passou a adotar a estratégia alimentar com zero carboidratos também para sua vida, de maneira geral. “Sinto-me plenamente bem”, diz.

A história de Medeiros e de muitos outros atletas de alta performance que adotaram uma dieta com baixíssimo ou nenhum consumo de carboidratos e mantiveram bons resultados esportivos, reforça a convicção do médico e diretor-presidente da ABLC de que a estratégia alimentar low carb é útil e recomendável para pessoas sedentárias que desejam emagrecer e ter uma vida saudável praticando atividade física. A despeito do que dizem muitos médicos e nutricionistas. “Se é possível correr 160 quilômetros sem carboidratos, é autoevidente que é possível andar na esteira sem eles”, conclui Souto.

Redação

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