Ironman: Como a temperatura ambiente interfere no desempenho

Quando o Ironman é realizado em condições ambientais adversas, resulta em soluções fisiológicas interessantes

Por Roger de Moraes

O Ironman representa grande desafio para o organismo humano. Quando realizado em condições ambientais adversas, resulta em soluções fisiológicas interessantes que revelam as prioridades do nosso corpo.

Somos seres homeotérmicos capazes de manter a temperatura corporal relativamente constante, independente das variações ambientais. Nesse sentido, a temperatura interna do nosso organismo situa-se em torno de 37 graus Celsius e o metabolismo só tolera oscilações na estreita faixa entre 35 e 42 graus.

Apesar de somente 30% da energia proveniente da degradação do ATP necessário para contração muscular ser transformado em trabalho, os outros 70% são liberados na forma de calor, que precisa ser adequadamente dissipado do corpo.

Se a etapa da natação for realizada em água muito fria (<15 graus), a maior condutividade dos fluidos poderá permitir acentuada queda da temperatura corporal mesmo diante de alta produção de calor mediado pelas vigorosas braçadas do nadador. Essa é a importância do uso de roupas de borracha em águas gélidas.

No ciclismo poderão existir perdas de calor por convecção, já que o vento renova as moléculas de ar aquecidas pela pele, mas o problema em geral costuma ser remover todo calor produzido por pedaladas potentes realizadas em posição aerodinâmica.

De fato, o maior desafio ocorre na corrida, quando em clima quente e úmido, o suor produzido é incapaz de evaporar e remover o calor desviado pela circulação para áreas periféricas cutâneas. A temperatura corporal pode subir excessivamente e precipitar a fadiga, e isso ocorre na desidratação pois as perdas de calor ficam prejudicadas. A esse respeito, alguns autores consideraram que a hipertermia reduza a capacidade central de ativação de unidades motoras e esteja diretamente relacionada à deterioração do rendimento. Caso o grau de desidratação seja superior a 5% do peso corporal, desvios de sangue para microcirculação cutânea poderão ser reduzidos ou mesmo cessar para economizar água. Como o enchimento ventricular fica diminuído, para se preservar o débito cardíaco e a pressão, a frequência cardíaca se eleva e ocorre vasoconstrição cutânea. Neste caso, cessam as possibilidades de perder calor pelo suor.

Roger de Moraes – @demoraesroger

Ex-triatleta Profissional, Professor de Fisiologia Geral

Doutor em Ciências com Pós-Doutorado no Laboratório de Investigação Cardiovascular do Instituto Oswaldo Cruz – Fundação Oswaldo Cruz

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