Guilherme Manocchio fala sobre seu retorno às competições

Atleta de 37 anos, que possui dois títulos de Ironman, voltou a competir em alto nível no GP Extreme Penha

Qual foi a razão de seu afastamento das principais provas do país por um tempo? Em que se dedicou neste período?
Sinceramente, a resposta é complexa. Imagine que um grande atleta consegue realizar seu sonho. Mesmo por amor, adrenalina ou questões financeiras o sentimento em relação ao esporte muda depois disso. No meu caso, eu não entendi isso muito bem e veio um grande abismo. Dentro de mim, era se preciso uma ressignificação do esporte. Como não enxerguei isso na hora, somatizei lesões crônicas e lesões agudas não intencionalmente. Tive acidente de bicicleta entre outras coisas, mas sinceramente o pior momento destes todos foi no ano passado, durante a época e prova do IRONMAN de Florianópolis. Na prova, senti muito desconforto ao respirar, desânimo, não tinha mais a mesma sintonia com meu corpo. Estava tudo errado, parecia… E quando examinei meu corpo durante as semanas vindouras e tive o diagnóstico, me assustei… tromboembolia no pulmão, além de quadros agudos esparsos: infecção de pele, urinária… resumo: qualquer coisa me derrubava.

Precisei me afastar da rotina e reavaliar minha vida. Amei o que descobri. Neste processo conheci a Microfisioterapia e inúmeras pessoas que sincronicamente surgiram na minha vida. Brinco em dizer que 2019 foi meu melhor ano: aprendi demais sobre mim, sobre meu propósito de vida e sobre estar presente. Cuidei da equipe, da minha família e desenvolvi meu lado espiritual e cognitivo em aceleração rápida pra estabilizar com meu desenvolvimento físico de anos. Resumo: amei o esporte novamente e sarei sem marcas de qualquer lesão que já tive.

Você iniciou muito cedo no esporte, aos 13 anos, o que te motiva a continuar?
Percebi que o esporte é um dos meus meios de propagar uma mensagem que não conseguiria de outra forma. Aprendi muito através de meu corpo, o esporte eleva minha percepção dos cinco sentidos. E é preciso muita força mental pra vencer as intempéries físicas, por isso acho que testa também o espírito do atleta. Acho isso o máximo!

Hoje enxergo um grande histórico de aprendizado e conhecimento. Por exemplo as experiências que tenho, tive e terei, são dispositivos cataclísmicos pra influenciar outras pessoas.

Eu falo, sinto e conheço detalhes hoje que eram desconhecidos pra mim antes. Meditação , interiorização, performance, potência, vitórias e derrotas… tudo está ligado a temas muito mais valiosos como o amor, união, harmonia e trabalho em equipe. Não de forma egoísta, não só meu ou da minha equipe, algo mais profundo e altruísta.

Do que sentiu mais falta?
Eu gostei particularmente dessa pergunta. Senti falta da vivência. O esporte é uma coisa incrível pois colocamos o que temos de melhor ou pior pra todos verem. Escancarados.

Disciplina nos treinos, grau de compromisso e o quanto se deseja algo… Todos esses quesitos são provados quando se está no seu limite. Nessa hora, algumas vezes, entramos num transe e tudo fica congelado e acelerado ao mesmo tempo. Nesse estado de flow tudo é vívido e é magnífico. Acho que a sintonia de corpo e mente nesse estado de ondas cerebrais diferenciadas me fez falta. Na realidade tenho como objetivo acessar esse estado perante cada detalhe da vida. Aprendi a valorizar a cultura oriental que preza exatamente por isso. Estar 100% vivo, no presente momento.

Como foi o retorno a uma prova de alto nível, como o GP Extreme? Ainda dá um frio na barriga?
Foi uma alegria! Gostei de estar com meu corpo saudável. Gostei dos adversários que respeito muito, somando inúmeros títulos juntos. Sempre digo que competir é invariavelmente bom. Quando vencemos é coroação de algo bem feito, e ao perder, o que muitas vezes vai acontecer é oportunidade pra crescimento. Feliz por ter tido uma boa natação e uma boa corrida que foi o que mais treinei nos últimos meses. O ciclismo honestamente não estava preparado pra 100 km nesse nível, então foi um bom teste mental. Adorei cada segundo. Frio na barriga pra mim é se importar com o resultado, com sua experiência. E sim, tenho esse sentimento, mas não fico abalado. Gosto bastante aliás.

O que planeja para 2020 e para o segmento de sua carreira profissional? Que provas ainda deseja fazer na sua vida?
Em 2020 eu tenho intenção de correr novamente as provas que não consegui direito em 2019. Isto é: IRONMAN Brasil e IM 70.3 Florianópolis. Parece que tenho uma história bonita ainda a contar. Vou competir em melhores condições, fazer o melhor que posso, cada dia. Na prova vou buscar a excelência em conduzir meu corpo até a chegada. Sabia que isso é o que os PROs fazem de melhor? Largar cada prova conhecendo percurso, possibilidades, ritmos, nutrição, adversários e organização pra ir o mais rápido possível até a chegada. O mais rápido possível, suportando o máximo de dor plausível. Normalmente fazendo essas coisas grandes feitos são realizados. E invariavelmente ótimas lições são aprendidas. Por isso são tão legais os relatos após as provas.

Gostaria de acrescentar uma pequena coisa. Desde pequeno gostava muito de uma frase em especial: “Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez.”

Gosto muito quando vejo os atletas com metas ousadas, quando alguém me compartilha um sonho, um desejo do fundo do seu ser. Algumas vezes acho impossível, mas aprendi que muitas vezes as pessoas realizam o impossível, quando moldam a realidade com seu poder de desejar algo ardentemente.

Quantas vezes não vimos isso como nossos próprios olhos? Minha dica é que cada um que ler essa entrevista pense que algumas coisas são impossíveis. Mas somente para aqueles que nunca tentam, que não ardem de desejo em busca de algo. Pra todas as outras e aqui eu me incluo, qualquer coisa é plausível. Quem diria ser possível oito medalhas de ouro numa mesma olimpíada? Quando eu imaginaria ter meus dois títulos de IRONMAN? Ou melhor, quem diria eu conseguir viver uma quebra de paradigmas tal qual vivi ano passado? Não sei, mas se alguém fez mesmo sendo impossível, cabe a você ter chama interna pra fazer o seu descobrimento do impossível também.

BIO
Idade: 37
Cidade: Curitiba
Tempo de triathlon: 25 anos
Altura: 1.80
Peso: 75kg
Roupa de borracha: Aquasphere phantom
Óculos de natação: K 180, Aquasphere
Bike: Cervélo P5
Capacete: Rudy Project Wingspan
Sapatilha: Specialized Torch 3.0
Tênis de corrida treino: Asics, 361, Hoka
Tênis de corrida competição: Nike Vaporfly
Óculos de sol: Oakley radar
Equipe: Manocchio Team Sports
Patrocínio: Japi
Apoio : Dux nutrition, ichibantherapy, Swimex, Tribo esporte

Redação

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