Entrevista: Vittoria Lopes

Ela tem apenas 23 anos e, junto com Luisa Baptista (que entrevistaremos na semana que vem), tem representado o Brasil no Circuito Mundial de Triathlon da ITU com garra. A cearense Vittoria Lopes tem o esporte em seu DNA, pois é filha de Hedla Lopes e Fabio Mello. Hedla foi nadadora profissional e primeira mulher do Norte/Nordeste a competir nos Jogos Pan-Americanos, em 1975, no México. Depois iniciou carreira como triatleta amadora e virou uma das grandes masters do mundo, inclusive conquistando pódio no Ironman Havaí. Vittoria sempre acompanhou a história da mãe e foi “mordida” pelo bichinho do triathlon também. Conheça um pouco mais dessa menina que já foi nadadora, mas hoje já é respeitada como triatleta.

Vittoria, consegue definir seu ano, até agora, em uma palavra?
Consistência.

O que ainda vem pela frente de competição até o final deste ano?
O foco é o Mundial Militar na China, e antes vou fazer uma etapa da Super League em Jersey, Grã-Bretanha, e uma Copa do Mundo sprint na Coreia do Sul.

Como vimos no recente Mundial de IM 70.3, atletas que participam ativamente do Circuito da ITU competem e até vencem na distância. Você e seu treinador já visualizaram alguma prova desta em breve, ou após os Jogos Olímpicos?
A gente nunca falou nisso, afinal o foco é total nas Olimpíadas, nas distâncias curtas. Apesar disso, eu acho que me adaptaria muito bem na distância, mesmo nunca tendo corrido 21 km na vida. Eu curto muito esse estilo da distância olímpica pra cima.

Como surgiu a equipe Origin em sua vida? Como chegou até o Ian O’Brien?
Ele treinava a Taylor Knibb, uma atleta Júnior na época, e ela sempre fazia uma coisa que eu admirava: Escapava na bike! Saindo na frente ou não na natação… essa atitude dela me deixava muito impressionada, então, depois que o projeto de Rio Maior (N.R.: Projeto feito pela CBTri, com sede num Centro de Treinamento de Excelência em Portugal, até os Jogos Rio 2016) acabou, eu fui atrás do treinador dessa menina, e hoje ele é meu treinador, o Ian.

Qual a principal diferença que notou nos métodos de treinamento com relação ao que já tinha vivenciado?
A maior diferença veio de mim. Quando estava com Sérgio Santos, eu tinha um ano de triathlon, eu estava em formação, passando de nadadora para triatleta. Detalhe: quando entrei no triathlon, fiquei quase dois anos sedentária, estava decepcionada com a natação, então, eu tive que voltar a ter a rotina de atleta. Não pude me conhecer a fundo com Sérgio, meu corpo não deixava muito. Já quando entrei com Ian, eu tive um pouco mais de base, e aí ele conseguiu explorar mais de mim.

Qual seu treino preferido com a equipe? Qual sua rotina padrão durante uma semana de treinos, sem competição?
Meus treinos preferidos são os de bike. Eu não tenho uma rotina fixa de treinos, isso que eu mais gosto. Todo dia é uma surpresa! Mas geralmente, sexta e segunda são dias fácies.

Você está morando em Boulder a maior parte do ano? Sentiu muito a questão da altitude no início dos seus treinamentos na cidade? Quanto tempo fica no Brasil atualmente?
Eu fiquei em Boulder dois meses. No início eu senti a altitude, inclusive teve uma prova que eu senti um cansaço a mais (Montreal), mas isso foi conversado com meu treinador e adaptamos para eu me sentir descansada. Eu fico quase o ano todo atrás da minha equipe, e os integrantes são gente boa, mas claro que eu sinto saudades dos meus pais, e quem me conhece, sabe que eu sou muito família… essa parte não é fácil! Mas tudo por um objetivo maior, os Jogos Olímpicos!

O seu ciclismo este ano deu um salto qualitativo enorme. Quem acompanha as provas do Circuito Mundial pôde ver isso com clareza. No começo era nadar forte e segurar a roda das líderes até onde desse para não sobrar; depois você passou a não perder mais a roda… e agora você troca a roda com elas e puxa em vários momentos (como na recente Grand Final). Como está sua confiança nesta etapa? Como é o “clima” dentro deste 1º pelotão?
Eu sempre tive uma facilidade para pedalar. Desde quando morava em Fortaleza, todos os homens com quem treinava se amarravam quando eu aguentava ficar na roda deles, porque eu não soltava a roda por nada! Eles achavam o máximo! Só que na ITU não é só colocar potência, velocidade etc. É isso tudo e mais as habilidades… sem contar que você precisa fazer isso depois de nadar forte! No Evento-teste olímpico, por exemplo, eu não me senti tão confortável na bike para puxar, mas consegui me manter no grupo, e depois consegui terminar em 4º lugar; na Grand Final teve uma menina que já chamou a minha atenção para eu puxar nas primeiras voltas, mas eu estava bem “afogada” no início do ciclismo (saí na 2ª colocação da água), e na primeira e segunda voltas não estava confortável para ajudar, aí na terceira volta eu pensei: vou ajudar! Eu quero ser respeitada pelo meu ciclismo, não só como a nadadora, e puxei! E depois que acabou a prova eu dei os parabéns para a Flora Duffy e escutei dela: “Nossa, como você estava forte!“. Isso não tem preço!

No primeiro pelotão de bike da Grand Final você era a atleta mais jovem. Sente que as outras meninas já te olham diferente?
Para ser bem sincera, eu acho que o Brasil está ganhando seu espaço a nível mundial novamente; nos comentários das provas a narradora fala muito das americanas, inglesas… eu até entendo, elas já estão há bastante tempo na estrada, mas eu e a Luísa Baptista estamos conquistando isso.

Sua corrida também evoluiu muito e as lesões cessaram. O que mudou? Como é feito o fortalecimento para isso?
Por incrível que pareça esse é meu primeiro ano sem lesão. Dos cinco anos de triathlon, esse foi o primeiro que desde janeiro não parei de correr. Acredito que estou virando triatleta (rs…), mas claro, sempre faço fortalecimento e recuperação.

Tem ídolos no triathlon?
Flora Duffy! Que mulher!

Você passa um jeito leve ao competir, com semblante positivo, de quem está fazendo força e curtindo o momento. É um jeito seu, teus pais te ajudaram nesse processo e/ou você trabalha isso de maneira programada?
Simmm! Minha mãe é igualzinha! Ou melhor, eu sou igual a minha mãe? Rs… eu acho que sim!! Mas é verdade, eu levo o triathlon de uma maneira muito leve, às vezes eu até esqueço que é a minha profissão. Por um lado é ruim, podia ser mais focada em alguns pontos, mas por outro lado não… Eu AMO! Amo porque eu entro pra me divertir e acredito que seja bom, fica mais leve, mais tranquilo! Mas é tudo questão de amadurecer, saber dosar e equilibrar! Meus pais estão aí para me ajudar, encontrar esse equilíbrio. O Danilo (N.R.: Danilo Pimentel, namorado da Vittoria e triatleta profissional também), principalmente, me ajuda ser mais focada sem perder esse meu jeito de ser meio moleca!

Sua mãe já comprou passagem para Tóquio?
Nossa, nem me fale! Ela está falando disso todos os dias! Procurando passagem, hospedagem… e eu falo “mãe, calma! Falta quase um ano“ e ela diz: “Nãoooo Vittoria, vai ficar caríssimo! Ela tem razão!

BIO
Nome: Vittoria Lopes
Idade: 23 anos
Altura: 1.63m
Peso: 52 kg
Roupa de borracha: HUUB ATANA
Óculos de natação: HUUB Varga
Bike: Venge Pro-2020
Capacete: SW Evade II
Sapatilha: SW Trivent
Tênis de corrida: Não tenho patrocínio
Óculos de sol: Não tenho patrocínio
Equipe: Origin perfomance
Patrocínio: Força Aérea Brasileira e Triathlon Brasil
Apoio: Specialized, Vitafor, Huub e Bolsa-Atleta

Deixe seu comentário

comentários

Redação

press@trisportmagazine.com