Entrevista: Luisa Baptista

Luisa Baptista tem 25 anos e faz parte da Seleção Brasileira de Triathlon. Tendo todo seu trabalho desenvolvido desde o início no SESI-SP, ela tem bem encaminhada sua classificação olímpica, onde no ranking para a competição ocupa a 32ª colocação. Dona de dois ouros nos recentes Jogos Pan-Americanos, Luisa sabe exatamente os pontos que têm de ser trabalhados para sua evolução continuar até Tóquio 2020. Conheça mais sobre essa triatleta dedicada e que se vê correndo no futuro provas de Ironman 70.3 também.

2019 pode ser considerado seu melhor ano no triathlon? O que te fez chegar a esse patamar esse?
Acho que tem uma série de fatores, de 2016 para cá tenho tido uma evolução ano a ano. É possível perceber que os resultados vão sendo melhores e mais constantes com o tempo, e espero que ano que vem isto continue! Trabalhar com uma equipe multidisciplinar também tem uma grande influência (Técnico Eduardo Braz, fisio Gustavo Meliscky, psicoóloga Carla di Piero, nutricionista Humberto Nicastro, médico Paulo Pucinelli e fisiologista Gerson Leite). E por fim, acho que tenho encarado o triathlon de maneira “mais leve” que antigamente, mesmo sendo minha profissão, consigo me divertir bastante no dia a dia e nas provas e isso tem sido bem positivo.

Ter conquistado dois ouros nos Jogos Pan-Americanos te ajudou em termos de reconhecimento e/ou patrocínios/apoios? É possível viver de triathlon no Brasil?
Em partes! Apareceram algumas propostas, mas acredito que esse retorno ainda é bem pequeno perto do momento em que se encontra o triathlon brasileiro. Hoje, acredito que sou uma das poucas que vive de fato do triathlon, graças a entidades como o SESI-SP, Exército Brasileiro, a CBTri e programas do governo como o Bolsa Atleta, porém, sei que esta realidade não é a mesma da maioria dos brasileiros.

Como foi o apoio da família neste caminho de atleta profissional que escolheu?
Minha família deu total apoio, mas isso vem desde antes de escolher o triathlon como profissão. Quando criança meus pais abriram mão de muita coisa para que eu e meu irmão pudéssemos seguir nossos sonhos, com o esporte não foi diferente.

Você vai estrear essa semana na Super League Triathlon, em Jersey. O que espera da mesma?
A Super League tem um formato bem diferente e dinâmico, apesar disso, tem muitas características parecidas com as quais preciso melhorar no triathlon olímpico: início de natação e bike fortes, transição rápida, e o ciclismo é bem técnico também; será mais uma oportunidade de me testar, desenvolver e de estar entre as melhores do mundo.

O que ainda vem pela frente de competição até o final deste ano?
Acabei optando por encerrar o ano após o Mundial Militar, abrindo mão das últimas etapas de Copa do Mundo do ano, portanto, tirarei um período de férias para que no meio de novembro já esteja de volta, fazendo um período de base para o ano que vem com maior qualidade.

Qual a modalidade que sentiu a maior evolução em 2019?
Acredito que evoluí de forma igual nas três, mas o que me deixou mais satisfeita foi evoluir a natação. Na maior parte das provas de nível mais alto consegui encaixar a modalidade num segundo grupo, para o ano que vem meu objetivo é melhorar ainda mais para que estar neste grupo intermediário seja algo constante; a longo prazo tenho que trabalhar muito se penso em sair lá na frente, mas sei que também é possível,

Nas provas transmitidas da ITU é possível perceber você puxando o seu pelotão de bike várias vezes, sempre à busca do 1º grupo. Como se dá esta “negociação” dentro do pelotão? Vocês se organizam ou acaba que sempre as mesmas ficam puxando o ritmo?
Depende muito! Os circuitos são bem técnicos e nas últimas provas tenho percebido que acaba sendo mais fácil ficar na frente do grupo do que atrás, sendo refém do ritmo e dependente de quem está à sua frente, pensando nisso estou adotando nas provas uma postura de tentar ir pra frente e isso tem tido um bom retorno, porém muitas vezes o grupo, quando muito grande, deixa de se organizar para andar rápido e ficam as mesmas ditando o ritmo, e isso é negativo. É possível ver que o grupo principal, que sempre é composto de 6 a 8 meninas que nadam e pedalam muito bem, está muito entrosado, assim acabamos perdendo um certo tempo na bike, mas acredito que aos poucos e ganhando um certo respeito das gringas, se torne possível ser alguém que consiga ajudar a organizar o grupo melhor e de fato fazer a diferença na bike.

Quando põe os pés no chão para correr é o momento que sente: “agora estou em casa!”? Essa confiança na corrida veio desde o início no triathlon?
Sem dúvida, a corrida é a modalidade que tenho me destacado pouco mais e sempre me sinto mais tranquila ao por o pé no chão, do que na natação ou na bike! Quanto à confiança, é gerada principalmente graças a alguns treinos em específico, como alguns de pista nos quais bato determinados tempos, assim sei que “estou em forma”. Tento me lembrar desses treinos positivos antes das provas e isso também aumente essa sensação de estar em casa.

Sua classificação olímpica está muito bem encaminhada. Quando lembra como começou no esporte, pensava que um dia chegaria tão longe?
Sempre sonhei com a classificação olímpica! Acho que é o sonho de todo o atleta! Fico muito feliz em estar quase concretizando isto. Sempre fui bem determinada quanto a este sonho, me lembro até hoje que quando criança decidi fazer Educação Física porque quem sabe um dia pudesse ser uma técnica que estivesse nos Jogos Olímpicos, mas quando veio a oportunidade do triathlon abracei a ideia e vi a possibilidade de realizar isto como atleta

O melhor resultado do triathlon brasileiro nos Jogos Olímpicos foi feminino, com o 11º lugar de Sandra Soldan, em 2000. Tóquio 2020 pode ser o momento de você e a Vittoria Lopes tentarem algo mais?
Com certeza! Acho que toda a Seleção Brasileira tem muita qualidade, trabalha muito, ama o que faz e ainda é um grupo novo! Acho que temos tido bons resultados, feito alguma parte da história do triathlon brasileiro e podemos fazer sempre mais!

Depois de ter corrido o Evento-teste, o que achou do percurso olímpico?
Sinceramente, eu amei! Acho que o percurso é bem técnico, apesar de plano, mas o calor de Tóquio e a água quente podem ser fatores que venham a ajudar os brasileiros.

Você e seu treinador, Eduardo Braz, já visualizaram alguma prova de Ironman 70.3 em breve?
Corri o Ironman 70.3 Rio em 2016 (N.R.: Luisa venceu a prova), depois voltei o foco total para o triathlon olímpico; talvez, em 2021 mas até lá tem muito chão ainda!

Qual seu treino preferido?
Treinos intervalados de bike ou pista.

Qual sua rotina padrão durante uma semana de treinos, sem competição?
Depende muito do período do ano, quando estamos em altitude chegamos a bater 32 horas semanais, nadando seis vezes na semana, pedalando todos os dias e correndo mais seis vezes na semana, com musculação duas vezes, mais Core, extensor e alongamentos.

Você se sente mais confortável em qual distância no triathlon?
Apesar de correr as provas curtas, eu gosto bastante e ainda me vejo correndo provas de Ironman 70.3, acredito que consiga ser bem constante principalmente na bike e corrida, em rodagens longas.

Já soube que você tem o Reinaldo Colucci como ídolo no triathlon. Tem alguma “gringa” que você se inspira?
Sem dúvida, a suíça Nicola Spirig.

BIO
Nome: Luisa Baptista
Idade: 25 anos
Altura: 1,67m
Peso: 53Kg
Roupa de borracha: Huub Acara
Óculos de natação: Huub Varga
Bike:  Scott Foil
Capacete: Specialized
Sapatilha: Specialized
Tênis de corrida treino: New balance 1080 / Asics Nimbus
Tênis de corrida competição: Asics Tartherzeal
Óculos de sol: Oakley
Equipe: SESI-SP
Patrocínio: Exército Brasileiro / CBTri
Apoio: Contemplada pelo programa Bolsa Atleta

Redação

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