Entrevista com Walter Tlaija, o triatleta do “Everest”

“Sem provas em vista… precisei achar maneiras de me desafiar, de me testar, de aumentar o autoconhecimento"

Ele é um dos triatletas amadores mais fortes do Brasil, com várias conquistas e desempenhos marcantes. No seu aniversário de 34 anos decidiu fazer um desafio incrível de ciclismo, que merece registro. Conheça o gaúcho Walter Tlaija.

Como foi sua vida esportiva até conhecer o triathlon?
Cheguei no triathlon por influência de um amigo de infância e de vida toda, que, enquanto cursava Educação Física, foi ser Staff no IM Brasil em 2009. Voltou da prova alucinado, e logo me propôs o desafio: IM Brasil em 2012. Aquilo me chamou muito a atenção e eu fui pesquisar o que era Ironman, pois só conhecia o triathlon de forma genérica. Na época, eu viajava de bike, já tinha duas bikes Road, já amava pedalar e já era fascinado por esporte. Minha vida toda foi ligada ao esporte. Joguei futebol até os 17 anos, passando por todas as categorias de base do SC Internacional, era viciado em surf, skate, escalada… sempre tive facilidade para os esportes.

Qual foi sua primeira prova de triathlon e que recordações traz dela?
Minha primeira prova de triathlon foi o Olímpico de Osório, aqui no litoral gaúcho. Uma prova bastante tradicional e que sempre contou com os principais nomes do nosso estado (Frank Silvestrin, Lucas Pretto, Thiago Menuci, Alex Azambuja, Roberto Lemos, Franco Gerosa…). Minha natação sempre foi a pior modalidade e, no início, quando comecei, me assustava muito. Não por medo de nadar ou medo da água, mas por conta do tanto que eu sofria para conseguir nadar com certa qualidade/velocidade. Nesse dia em questão, eu era o único da prova sem roupa de borracha, pois ainda não tinha adquirido uma, e fazia um frio feroz, com chuva fina e vento. Eram duas voltas na natação, e eu, tão desnorteado e sofrendo com a estreia, com o frio, com o ritmo, cheguei a me perder na contagem das voltas e quase saí da água tendo completado apenas a primeira!! A sorte foi terem me gritado do lado de fora, o que me fez voltar e nadar a segunda volta. De resto, no ciclismo e na corrida, pura diversão.

Quais as provas que guarda as melhores lembranças?
Minhas melhores lembranças de prova são do Ironman 70.3 Floripa 2018, quando fui campeão amador e 8º Geral, travando uma disputa dura com o Belarmino; o Challenge Floripa 2018, quando assumi a ponta no início do ciclismo e não larguei mais, ficando com a vitória na geral; os dois Mundiais de 70.3 (Australia, 2016, e EUA, 2017), nos quais fui o melhor amador brasileiro e TOP 10 na categoria; meu primeiro IM, em Floripa, 2015, que me deu vaga pra Kona; todas as edições do 70.3 Punta del Este, nas quais sempre fui com a família, sempre vivi grandes momentos e que ganhei na geral em 2017. Kona não me traz boas lembranças, mas admiro e respeito muito a prova, e voltarei lá, certamente. Enfim…muita lembrança boa!

Como é sua logística no dia a dia?
Meu dia a dia é bem corrido (agora menos, com a quarentena e sem tanto treino). Temos dois filhos, de idades bem diferentes e com demandas muito diferentes; minha esposa é psicóloga e trabalha pra caramba; eu tenho uma Cafeteria, há um ano, e dedico bastante energia a ela. Antes disso, quando trabalhava em uma grande empresa, era bastante corrido também, mas sempre consegui encaixar treino e atividades sociais.  Sempre treinei 20-25h por semana, sem deixar de dar atenção à esposa e aos filhos, sem deixar de me dedicar ao trabalho e sem abrir mão dos prazeres da vida social. Minha esposa é peça fundamental nesse quebra-cabeça. Sempre deu mais do que 100% para que eu me mantivesse treinando em bom nível, sempre me apoiou ao máximo, abraçou comigo todas as provas e curtiu comigo cada etapa do processo todo.

Como foi esse desafio do @everesting Challenge? Como surgiu a ideia?
Sem provas em vista mas com muita vontade de competir, precisei achar maneiras de me desafiar, de me testar, de aumentar o autoconhecimento, de sentir aquele gosto de competição. Comecei a quarentena fazendo uma conta no Zwift, e, de cara, já estava competindo e curtindo muito a brincadeira. Parei de correr (para preservar minha lesão no tendão) e parei de nadar (pois o clube havia fechado), então só pedalava. Pedalei muito desde o início do confinamento. Até que um dia, no início de junho, quando voltei a pedalar na rua depois de 70 dias, resolvi promover um “evento/desafio" no dia do meu aniversário (7 de junho): a ideia era subir 34 vezes – uma vez para cada ano de vida – o Morro São Caetano, um lugar clássico para pedalar, e tentar arrecadar 34 cestas básicas para doar. Fui lá, fiz, deu tudo certo, doei as cestas, e reparei algo interessante: a altimetria total do pedal deu 5500. “Opa….gostei! Da pra pensar em algo a partir disso!". Foi quando um amigo mencionou o Everesting, me mandou o Site e, assim, a semente foi plantada. Começamos a planejar, pensar no dia, organizar a coisa toda…. Mas meu amigo optou por não fazer o desafio nesse momento, pois não estava tão treinado quanto eu. A minha vontade permaneceu, e, feitas algumas alterações e adaptações no plano inicial (principalmente a respeito do local escolhido e do horário de início, no dia 4 de julho, exatamente 1 mês depois do desafio de aniversário, subi o Everest. Foi incrível! Deu tudo muito certo! Cabem aqui os agradecimentos à minha esposa, à nutri Ciça Carvalho, à Bike Tri, ao Lagartixa Bike Fit, ao meu irmão Tales Tlaija, e a todos os outros que, de uma forma ou de outra, ajudaram. Foi realmente uma baita experiência!!

O que tem de provas já programadas para 2020, depois que acabar a quarentena?
O próximo desafio, ainda em 2020, é o IM Brasil. Estou louco para encarar um IM, depois de 4 anos fazendo só 70.3. Depois do IM Brasil, devo fazer o Challenge ou algum XTerra.

Qual seu objetivo maior dentro do triathlon?
Meus objetivos dentro do triathlon foram mudando ao longo desses 9 anos no esporte. No início eu só pensava em performance e em ganhar, mesmo sem ter, ainda, condições de ganhar nada. Depois, comecei a curtir mais o processo todo, os treinos, as viagens, e o objetivo passou a ser a diversão, principalmente com a família por perto. Atualmente, gosto tanto de treinar, consigo tão bem competir comigo mesmo, aproveito tanto cada treino e tenho tanta vontade de me conhecer melhor que o principal objetivo talvez seja compartilhar, dividir com os demais as minhas vivências, o que penso sobre os treinos e provas, como enxergo o triathlon para um amador, como considero importante a força mental, etc.

Que dicas pode dar para alguém que vai iniciar no triathlon?
A quem está começando, eu tento passar a mensagem de simplicidade, de treinar com o equipamento que se tem, de não dar tanta bola pra Garmin, de dar muita atenção ao corpo, de treinar a cabeça no dia a dia, de se observar o máximo possível, de curtir o treino. Tento fazer isso sem podar o ímpeto e a super empolgação de quem está começando. Acredito que cada um cria seu caminho e que dica nenhuma vai ser melhor do que as próprias experiências.

BIO
Nome: Walter Tlaija de Souza
Idade: 34 anos
Cidade: Porto Alegre/RS
Tempo de triathlon: 9 anos
Altura: 1,70m
Peso: 69kg
Roupa de borracha: XTerra Vengeance
Óculos de natação: Aqua Sphere
Bike: TT – Cervelo P3 2015; Road – Soul 3R3 Aero 2018; MTB – Soul Vesuvio 2020
Capacete: TT – Giro Aerohead; Road/MTB – Catlike Whisper
Sapatilha: TT/Road – Specialized; MTB – Giro
Tênis treino: Adidas Adizero e New Balance 1500
Tênis prova: Adidas Adizero
Óculos de sol: Mormaii
Equipe: Exerscience – Bruno Berger
Apoio: Probiotica, Bike Tri, Suporte Reabilitação Esportiva, Lagartixa Bike Fit

Deixe seu comentário

comentários

Redação

press@trisportmagazine.com