Dicas para seu melhor retorno à natação após a quarentena

A melhor maneira para retornar aos treinos de natação após quase três meses de ausência das piscinas

Claudio Morgado foi um dos primeiros treinadores de triathlon do Brasil, praticamente atuando desde a primeira prova realizada em solo nacional, em 1982, conhecida como a “Corrida Alegre”, que envolveu natação, corrida e ciclismo, nesta ordem de execução.

Professor de Educação Física, oriundo da natação e do pólo aquático, acompanhou toda a evolução do treinamento do triathlon ao longo da história, continuando ativo e antenado a tudo que cerca nosso esporte. Abaixo, confira as dicas do Mestre Morgado sobre a volta dos triatletas aos treinos de natação, após praticamente três meses de ausência das piscinas. Como ele fala… “Simples assim!”

Por Claudio Morgado

Treinamento desportivo é dividido em fases, como período de base I e II, período específico, competitivo, subfase de pré-performance, polimento… após isso vem um fase de diminuição racional do treinamento, desacelerando o atleta, o chamado “destreinamento”, que é a diminuição racional do volume que o atleta vinha fazendo, para ter uma readaptação do corpo ao sistema metabólico normal. Após isso, dá-se início a um período de “férias”, onde sempre pedimos para que o atleta faça algumas atividades “extra-curriculares” (fora do desporto praticado por ele), para ter um mínimo de manutenção e não voltar com sobrepeso, pois o seu metabolismo é muito acelerado e, nas férias, diminuindo o gasto calórico, mas mantendo-se a ingesta, arrisca-se ele voltar uma “bolota”…

Geralmente as férias são de duas semanas, com mais o acumulado do destreinamento, dá quase um mês. Só que, nesse momento, passamos por uma pandemia mundial e houve uma paralisação geral de quase três meses, forçada pela quarentena. As dicas que darei são para natação, que é o esporte mais complicado para tanto tempo de ausência, isto porque no chamado “meio líquido”, que não é o habitat natural das pessoas, a propriocepção é o que determina como o atleta se condiciona dentro d’água, como assimila os educativos e autoestímulos de treinamento, e este tempo todo de ausência de contato com a água é um complicador. Vamos às dicas aos três grupos que separei:

Dicas – Grupo 1
O conhecido “nadador”, que teve a natação como esporte de base e migrou para o triathlon, deve executar uma divisão racional do volume que vinha fazendo, por exemplo: Se estava nadando 3.000mts, cinco vezes por semana, voltará nadando 1.500mts/2.000mts por dia, dando ênfase a atividades de propriocepção, pois já tem isso dentro de si, o que facilita bastante esta retomada do posicionamento dentro d’água. Atividades tais como educativos submersos, palmateios e natação “bem nadada”, ou seja, no sentido econômico, com foco na frequência de braçadas, com o nado bem alongado, sentindo mais a água e sempre em aeróbico 1, com no máximo estimulações de velocidade de 12,5mts a 20mts, para voltar a ter a pegada de força, velocidade e potência; isto fará a transferência para a propriocepção ao meio.

Dicas – Grupo 2
O triatleta mais “nadado”, aquele que definimos como meio-termo, que não é nem o nadador e nem o “afogado”, que trabalhava um volume igual ao do chamado “triatleta nadador”, deve voltar também com um volume menor, já que sua mecânica não é tão desenvolvida como a do colega mais experiente. Quando este atleta fica muito tempo sem nadar, parece que está passando “faca quente na manteiga”, pois tudo desliza e patina, sem a sensibilidade adequada ao meio. Reduza seu volume para 1.200mts/1.500mts, faça uns oito treinos de readaptação, sentindo a frequência e realizando os treinos de forma mais “nadada”, ou seja, faça um aquecimento breve de 300mts e trabalhe educativos para os segmentários, tanto de perna quanto de braço, e olha que pernada para triatleta é complicado… Para os que gostam muito de pullbuoy, tire-o um pouco, invista nos educativos, só para recuperar a sensibilidade ao meio.

Dicas – Grupo 3
Para os triatletas que estavam no desenvolvimento primário da natação, caracterizando mais o nado e iniciando na performance, esse tem de dar ainda mais ênfase aos educativos. Se estava nadando 2.000mts, reduza o volume para 1.000mts, com quase 80% dedicado à educação do nado, porque, como nadador iniciante, você está aprendendo o movimento e ficou um grande período sem nadar, seu gesto ainda não está medular, neural, ou seja, ainda não está dentro de você de uma maneira que faça “sem pensar”. A natação é um esporte cíclico, então se você erra nos primeiros 25mts, você errará nos 1.475mts restantes… se você executa um gesto errado sempre, acabara tornando este gesto neural e errado, sempre! Reforçando aos iniciantes: aqueça pouco e vá para os educativos, do mais simples aos mais difíceis, sem pular etapas! Isto facilitará o retorno. Depois de oito a dez treinos de readaptação, comece a avançar no treinamento.

Dicas gerais
Não há tempo perdido! Você não retorna de onde estava. Tem que recomeçar, e é mais difícil de quando o atleta já está treinando, pois ele sabe que já foi capaz de fazer, e isso para a mente é horrível. Ele fala para si mesmo: “Eu nadava para 1’30”/100mts e agora faço para 1’35”/100mts…” Infelizmente, é isso! É o que você tem para o momento, então tem que respeitar e voltar paulatinamente. Não adianta voltar depletivo, tem que voltar adaptativo aos estímulos e à coordenação motora do nado, principalmente aos atletas do grupo 2 e 3 dos exemplos acima citados. Tem que começar sem acelerar o processo, pois se fizer isso, vai começar a patinar e o gesto errado se tornará um hábito, e na natação, quando isso ocorre, “não se sai do lugar”.

Claudio Morgado é técnico de triathlon. @morgadotri

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