Até que ponto vale perder peso?

Observando a figura de triatletas profissionais, podemos reparar claramente que são, geralmente, indivíduos leves e com baixo percentual de gordura. Indiscutível que quanto menos peso gordo carregar, mais fácil (e maior a economia de movimento) especialmente na natação, pedal e na corrida.

Cada quilo perdido pode ser sentido claramente na redução do pace e melhora a relação potência/peso na bike.
Mas, a ciência não é tão simples assim! Não basta reduzir calorias e baixar o peso na balança para que a sua performance melhore na atividade. O importante é: peso de onde deve cair?

Podemos observar de perto a queda grande da performance do canadense Lionel Sanders, vice-campeão mundial do Ironman, em sua última prova no Ironman Mt. Tremblant neste último domingo.

Após ter feito uma grande redução de calorias e peso nas semanas anteriores a prova (-6kg), ele (como o próprio disse em entrevista) não tinha energia suficiente para manter o seu ritmo na prova e nem para gerar a potência proposta durante os 180km de ciclismo (mesmo estando bem mais leve!). Lionel teve um queda visível na segunda metade da bike em Mt. Tremblant.

Então, o que pode ter acontecido? Pontuaria dois erros “graves”:

– Não distribuir bem os macronutrientes (carboidrato/ proteína/ gordura) ao redor do treino, fazendo com que parte do peso perdido fosse de massa muscular. Apesar de atletas de endurance não serem tão fortes, essa massa muscular certamente fez falta! As fibras brancas (de força) são importantes especialmente em momentos que estamos exercitando ao redor do limiar aeróbio (em momentos especiais que precisamos emplacar mais potência). Foi exatamente aí que Lionel sentiu e não conseguia fazer força suficiente.

– O outro erro foi reduzir peso também por ter reduzido os estoques de glicogênio muscular e já começar a prova depletado (como o próprio confidenciou).

Apesar de ser atleta super treinado e ter capacidade total de usar gordura como fonte energética para a atividade, uma manutenção de glicemia no sangue é fundamental para que o cérebro entenda que é plausível manter-se na atividade. Provavelmente, ele esgotou mais rapidamente os estoques de glicogênio, ficando sem força para atingir a potência pré determinada no pedal. Quando começou a corrida, sabendo da sua qualidade, ele ainda correu bem os primeiros 20km, mas não foi capaz de manter-se. O estoque de glicogênio já devia estar mínimo e, mesmo com a glicose externa (vinda de géis ou bebidas isotônicas), não foi capaz de manter a glicemia minimamente estável, obrigando-o a reduzir muito a velocidade e caminhar, por volta do km 21.
Lionel terminou em segundo na prova, mas muito longe da sua capacidade e resultado final que temos visto nos últimos meses.

Resumindo, não basta perder peso! Tem que perder peso com qualidade, reduzindo o percentual de gordura, mantendo a massa muscular e ainda fazendo um “up” de glicogênio na semana anterior à prova.
É isso que garantirá a energia fundamental para manter-se em uma atividade mais longa de modo eficiente!

Ou, mesmo com todo o condicionamento e horas de treinamento envolvidas, você pode colocar tudo a perder…

Julia Engel

Nutricionista Pós graduada em Nutrição Esportiva UFRJ | www.juliaengel.com.br