Aerodinâmica e suas nuances

O conjunto bike e ciclista e sua análise

Você pode ser um atleta com capacidade de sustentar alta potência no ciclismo por longo período de tempo, mas se sua aerodinâmica global for ruim, seu rendimento será muito pior do que deveria ser. Neste contexto, para além da remoção de cabos externos, suportes de garrafa mal posicionados, uso de capacetes tipo “gota” e linearização dos tubos da bicicleta, o posicionamento do ciclista modificado na década de 90, consolidou importantes alterações que contribuíram para que os tempos no Ironman diminuíssem em quase 60 minutos.

De um modo geral, a regra é ser o mais aerodinâmico possível sem comprometer a potência de pedalada. Neste caso, quanto menor o ângulo do quadril formado entre o fêmur e o tronco, maior a aerodinâmica e também o desconforto. Nestes casos, muitas vezes sacrifica-se a função ventilatória e o próprio estômago do ciclista funciona como barreira do movimento das pernas que também pode ser limitado pela pobre flexibilidade do atleta.

Embora muitos orientem o alinhamento do trocanter maior femoral com os cotovelos, tal posicionamento dificilmente produz linearidade nas costas que só costuma ser alcançada quando a cabeça do fêmur se encontra ligeiramente superior ao apoio dos cotovelos. Para distâncias longas do Ironman seria interessante manter o ângulo do quadril em torno de 50 graus com posicionamento semi-abaixado da cabeça e capacete que provocasse fluxo laminar de ar em continuidade com as costas do atleta.

A aerodinâmica de qualquer objeto é função do coeficiente de arrasto e da sua área de seção transversa frontal.

Na posição mais baixa do guidão tradicional, o coeficiente de arrasto é de 0,9 e significativamente inferior do que segurando no topo do guidão (1,2). Adotar posição aerodinâmica implica em diminuir tanto a área frontal como o coeficiente de arrasto e desenvolver formatos mais lineares de equipamentos e bicicletas assim como posicionar o “aeroclip” em ângulo de 45 graus contribui para reduzir a turbulência do ar.Projetar o corpo do ciclista para frente posicionando a linha de seu quadril mais em cima do movimento central também reduz a área frontal e melhora o posicionamento aerodinâmico do tronco.

Tal posicionamento pode ser alcançado com a movimentação do selim para frente ou com quadros com geometria com ângulos dos tubos superior e do selim mais fechados. Mas como podemos medir tudo isso?Se pedais, pé de velas e cubos de roda já são capazes de medir a potência de pedalada com precisão, o mais novo lançamento tecnológico é equipamento que pode ser posicionado no “aeroclip” para calcular o coeficiente de arrasto (Notio Konect).

Comparando tal indicador com a potência, o ciclista poderá testar várias posições aerodinâmicas e encontrar aquela aonde a potência não fique comprometida.Talvez o que permita o desenvolvimento do rendimento do triatlon moderno seja exatamente a possibilidade de elaborar hipóteses e testa-las com maior eficácia através de equipamentos cada vez mais precisos.

Ainda que estudos controlados e randomizados precisem ser realizados para confirmar tais hipóteses, os avanços tecnológicos parecem ir na direção certa para maximizar o rendimento humano neste esporte. (Kordi, M.; Galis, G.; Erp, T.; Terra, W. Reliability and sensitivity of the Notio Konect to quantify coefficient of drag area in elite track cyclists. European Journal od Sports Science, v. 22, n. 6, p. 774-779, 2022).

Roger de Moraes
Ex-triatleta Profissional,
Professor de Fisiologia GeralDoutor em Ciências com Pós-Doutorado no Laboratório de Investigação Cardiovascular do Instituto Oswaldo Cruz – Fundação Oswaldo Cruz

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