O Dia depois da Rio 2016

Os Jogos Olímpicos aconteceram e, diante do completo caos organizacional e financeiro que vivemos, muitos atletas se lançaram na aventura de seus projetos de vida. Mesmo desconsiderados e descuidados, muitos dedicaram sua vida inteira para um único momento. Para muitos, além de único será o último.

A aposentadoria chega para todos. Como todos os momentos de mudanças na vida, é uma fase que pode ser vivenciada como uma maldição ou como uma dádiva.

Infindáveis relatos de atletas e ex-atletas nos mostram que existem momentos de questionamento de sentido para tudo o que é feito. Sabe-se que, mesmo com toda a dedicação de tempo, a identificação com um papel social, com as inúmeras experiências vividas na cultura esportiva, há momentos em que devemos abdicar daquilo que já fizemos e fomos para nos tornarmos outro, atletas ou não.

Devemos considerar que durante a periodização o atleta tem como foco os treinos e a competição principal. O apogeu desta periodização, a competição principal, traz junto consigo o fim de um ciclo, o término de um período desgastante. Há a possibilidade de que logo após esse período exista uma quebra na existência em que se determina um momento de contato com a angústia, de rever objetivos. É um momento em que o atleta se depara com uma bifurcação existencial, de se deparar com as impermanências da vida.

Os motivos para parar podem ser inúmeros, idade, lesão, contra-desempenho. Independente das razões, a verdade é que a maioria dos atletas profissionais não se prepara para este momento. Muitos entram em depressão, outros desenvolvem síndrome do pânico, abuso de substâncias, entre outros atos que demonstram um não se saber no mundo, não mais saber seu lugar.

Quando bem preparada a transição pode ser vivenciada como uma abertura de novas possibilidades na vida.

O importante (e mais difícil) é entender que devemos preparar a transição de carreira desde o começo da prática. Seja um atleta profissional ou não, é importante saber que seu valor não está no quanto você desempenha bem ou não, mas nas suas ações enquanto ser humano, sua auto estima não deveria ser construída nos resultados, mas em suas qualidades. Estar ciente das impermanências e incertezas da vida, sabendo da finitude de cada fase da vida, pode ajudar a se preparar para o futuro, economizando ou preparando outra profissão para quando ser atleta não for mais uma opção. Explorar outras práticas de lazer que possam trazer momentos de flow, associados à felicidade, é descoberta importante para quando o atleta “encara” o mundo real, seja ele profissional ou não, alternativas àquele esporte específico. Assim, quando chegar o momento de transição, inesperado ou não, o atleta, profissional ou amador, tem a possibilidade de transitar na caminhada da vida sem grandes quedas.

Abaixo segue link de uma reportagem com alguns exemplos de ex-atletas que passaram por essa transição, suas experiências e suas alternativas:

http://thechronicleherald.ca/sports/1372723-transition-to-retirement-can-bring-emotional-turmoil-for-elite-athletes

Daniela de Oliveira é psicóloga esportiva e ex-nadadora profissional (www.pdhpsicologia.com.br)

Este artigo você viu primeiro na revista Tri Sport de agosto, número 163

Redação

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