Felipe Dayrell, sub 9 horas e 1º amador geral no Ironman Brasil FLN

Ele foi o primeiro atleta amador a cruzar o tapete azul em Jurerê Internacional, no recente Ironman Brasil Florianópolis. 15º colocado geral, com o tempo de 8:54:50, Felipe Dayrell fez mais uma grande prova na distância Ironman. No final do ano passado já havia sido o segundo melhor amador no Ironman Fortaleza, em Floripa, veio com a faca nos dentes e deu um show. Conheça mais sobre esta fera de hábitos simples, sem fórmulas milagrosas e que decidiu não ir para o Ironman Havaí em outubro.

Como foi seu 29 de maio em Florianópolis?

Realizei uma ótima largada conseguindo sair na frente da categoria 35-39 anos. Já na primeira boia alcancei os últimos colocados da largada da 30-34, que havia saído 5 minutos antes. Liderei a natação até 100 metros antes de sairmos para o retorno na areia, onde dois atletas me passaram, porém não abriram muita vantagem. O ritmo permaneceu constante até o final da etapa no mar de Jurerê. Saímos para a transição onde preferi fazê-la com mais calma, pois sabia que havia conseguido um ótimo desempenho na etapa de swim.

Saí para o ciclismo bem confiante e no inicio da primeira subida fui ultrapassado pelo excelente atleta de SP, o Arthur Ferraz, que impôs um ótimo ritmo na bike. Marquei ele de longe e isso me ajudou muito na primeira volta, onde retornamos em Jurerê para 2h20min no km 90! No final da primeira volta ultrapassamos os dois atletas que estavam liderando a categoria e o amador geral. Ao entrarmos na segunda volta, o Arthur se distanciou e mantivemos uma diferença de aproximadamente cinco a seis minutos. Esta mesma diferença eu mantive dos demais atletas que vinham atrás. O que dificultou muito o ciclismo foi a chuva na primeira volta, onde tivemos que ter muita cautela para não cair em buracos ou perder o controle da bike e também no retorno da segunda volta, onde o vento contra, que geralmente fica depois do túnel, esteve presente em praticamente todos os últimos 40 km. Devido ao vento, o tempo da segunda volto subiu para 02h30min, onde fechei o ciclismo com aproximadamente 4h50min.

Quando estava chegando para deixar a bike, o Arthur Ferraz já liderava com 5 minutos de vantagem e devido à minha transição esta diferença subiu para 7 minutos no inicio da maratona. Aproveito a segunda transição para respirar fundo, me hidratar,  ir ao banheiro e mentalizar a etapa da maratona. Saí para correr com um pace de 4’08”/km, o qual julguei estar ligeiramente mais forte do que o previsto, porém estava com muita confiança devido ao período de treinamento em BH junto à HF treinamento Esportivo. Fizemos a primeira volta dos 21 km, com as subidas de Canasvieiras quebrando o ritmo da Run e, após entramos em Jurerê, novamente o pace permaneceu estável e forte, entre 4’06” e 4’12”/km. Percebi que estava me aproximando do Arthur, mas minha preocupação naquele momento eram os outros quatros competidores fortíssimos da categoria 35-39 que vinham logo atrás. Uma curiosidade na corrida é que temos a sensação de que os adversários estão muito mais próximos do que na realidade. Isso me manteve atento para manter o pace forte e realizar uma ótima alimentação e hidratação durante a maratona. Fechei a primeira volta com o tempo de 1h29min e a diferença para o primeiro colocado havia diminuído para apenas três minutos! Nesse momento tive a sensação de que era possível uma aproximação, mas ainda não estava pensando na vitória. Sempre deixei claro que meu desafio no Ironman é extremamente pessoal e que meu objetivo este ano era baixar das nove horas de prova, o que era um sonho antigo, para fazer parte de um seleto grupo de atletas Sub-9 em Ironman. No final da segunda volta (primeira volta de dez km) me aproximei do Arthur Ferraz e no retorno para pegar a pulseira e iniciar a os últimos dez km ultrapassei o Arthur, porém mantendo a concentração extrema e sempre lembrando dos atletas que vinham atrás (Arthur Ferraz, Cesar Dalquano, Jose Lozano, Kenny Souza e Jose Belarmino), todos muito fortes! Maratona de IRONMAN é concentração extrema e monitoramento do corpo em relação à alimentação e hidratação. Consegui realizar tudo da melhor forma possível no dia da prova e após realizar o ultimo retorno da corrida, percebi que minha diferença para o segundo colocado da categoria estava em aproximadamente 4 minutos. Nos últimos km o pace já havia subido para a casa de 4’20”/km para todos os atletas e isso foi essencial para que eu mantivesse a distância. Naquele momento, faltando 3 km para a linha de chegada, percebi que se mantivesse o ritmo, teria chance de vencer, porém ainda brigava para tentar a marca pessoal do SUB-9. A dois km do final para manter a concentração, comecei a rezar e manter a vista focada a frente, no melhor ritmo que pudesse realizar. Ao entrar na Av Buzios comecei a acreditar na vitória da categoria e consequentemente no Amador, porém o sonho do Sub-9 ainda permanecia incerto. Ao entrar no funil de chegada e ouvir o narrador falando o tempo tive a certeza de realizar meu sonho e ainda vencer a categoria de idade e o geral AMADOR, posição que sinceramente não passou por minha cabeça em momento algum até o km 40 da maratona. Realmente uma prova sensacional para guardar na memória e comemorar muito.

Em algum momento viu esta liderança ameaçada?

Percebi que era o líder entre os amadores quando ultrapassei o Arthur Ferraz no inicio da última volta, ou seja, faltando 10,5 km para terminar a prova. Não acreditei muito no momento, mas era realidade! Show!!… Na realidade sabia que se mantivesse o ritmo poderia vencer a prova. Mas só tive convicção nos últimos 2 km. Até chegar nesse momento, estava correndo extremamente concentrado mas com a duvida: Será que algum adversário ainda pode me alcançar?!…

Com relação à nutrição e hidratação, como dividiu e o que consumiu durante a prova?

Olha, esse assunto de nutrição é muito delicado e extremamente pessoal. Meus amigos mais próximos em Belo Horizonte ficam me “zoando”, pois não faço acompanhamento nutricional, apesar de já ter sido convidado por profissionais da área. Como de tudo e principalmente o que me faz sentir bem. No dia da prova, levei uma garrafa de maltodextrina na bike, carboidrato em gel e balas de goma. Doce de banana e goiaba, desses que se compra em venda de esquina mesmo (rs)… Fiz um sanduíche de pão de forma com geleia de morango e levei batatas inglesas cozidas em água com bastante sal (essa receita das batatas sigo à risca há alguns anos e foi me passada pelo grande amigo Mateus Vidigal que também faz provas de IRONMAN). Além disso, tomei água e o isotônico fornecido pela organização na etapa de ciclismo. Na bike procurava sempre ingerir sólido de 20 em 20 minutos e pequenos goles de líquido para manter a hidratação. Na etapa de corrida, utilizei cápsulas de sal, gel de carboidrato, água, refrigerante e isotônico fornecidos pela organização da prova. Devido ao fato de ter saído para correr com alguns sinais de desidratação, ingeri líquido em todos os postos de hidratação, onde sempre saía com um copo de água na mão para ir dosando até o próximo ponto de apoio! Foi uma “guerra” a parte da maratona. Gostaria apenas de enfatizar novamente que o que eu disse acima não é regra, ok? O que serve para uns, para outros pode não possuir os mesmos efeitos. Então aconselho sempre aos atletas: Conheça seu corpo e suas intolerâncias para aí sim tentar chegar em um ponto ótimo que lhe faça bem e assegure uma boa performance.

O frio e a chuva incomodam mais que o calor e o vento do IM Fortaleza 2015? Onde se sentiu mais confortável, Floripa ou Fortaleza?

Gosto das duas provas, pois possuem perfis diferentes. A grosso modo, em Floripa o atleta consegue focar na melhora do tempo final de prova (como fui neste ano, visando minha sonhada marca SUB-9 em uma prova de IRONMAN) e já em Fortaleza o desafio e monitoramento do corpo é maior devido ao vento forte e temperatura elevada. Eu particularmente prefiro provas mais duras, em condições mais adversas como a prova de Fortaleza, pois assim nos colocamos mais à prova e passamos a conhecer melhor nosso organismo e onde podemos chegar (ano passado cheguei no limite em Fortaleza). Isso serve não só para o esporte, mas para a vida como um todo. IRONMAN é duro de qualquer maneira! Realmente o frio e chuva demandam uma atenção muito maior devido principalmente aos riscos de queda na etapa de ciclismo. Em Floripa fiquei muito atendo a possíveis buracos no asfalto e nas descidas, onde não arrisquei de jeito nenhum. Desci freando a bike em todas elas!… Hehehe… Já na etapa de corrida, o clima ajudou demais, pois estava fresco e conseguimos segurar um pace forte e constante. Fechei a maratona para 3h02min, o que para mim foi excelente!

Por que decidiu não pegar a vaga para o Ironman Havaí?

A principio minha intenção é participar novamente da prova de Fortaleza e tentar a vaga para Kona 2017. Estou conquistando alguns apoios, o que é essencial nos dias de hoje, não só para os atletas profissionais, mas também para os amadores. 

Como divide sua semana entre trabalho e treinamento?

Atualmente possuo uma microempresa e desta forma consigo adaptar os horários de treino. Apenas eu e um funcionário. Os treinos me ajudam demais a liberar toda a carga de estresse acumulada e a aguentar o “tranco” no dia a dia. Treino todos os dias na semana. Às segundas, quartas e sextas, faço sessões de musculação e natação. Terças e quintas treino os três esportes. Corro de manhã cedo, nado na hora do almoço e pedalo à noite na academia (sim, minha preparação de ciclismo durante a semana é realizada nas aulas de spinning na academia…). Aos sábados faço meus treinos longos de corrida e aos domingos os treinos longos de ciclismo na estrada. Tudo sempre com muito foco e procurando sempre melhorar e me superar. Nesse primeiro semestre não matei nem três treinos ao todos. #nopainnogain

Gostaria de agradecer à HF Treinamento Esportivo pelos treinos de corrida. Assessoria aqui de Belo Horizonte que me convidou para fazer parte de seus atletas e apostou na melhora da minha performance na corrida dentro da prova de IRONMAN, para que pudesse romper a barreira das 09:00 hs de prova. Agradecer à equipe de triathlon do Minas Tenis Clube que me auxiliou na parte de natação com a Coach Ericka Sales. Agradecer à nova parceira Vibe to Run que está apostando em ótimos resultados daqui para a frente. A galera do spinning e ao professor Top master  Andre Soares, que sempre me deram maior força e finalmente a todos que me acompanharam em qualquer treino que eu tenha realizado ao longo desse ano, em especial ao brother Luis Renato Topan pela parceria na raia de natação e nos treinos longos de ciclismo aos domingos, pois sabemos que não é fácil treinar para um IRONMAN e geralmente somos muito solitários. Valeu de mais galera!!  #adrenalizado

BIO

A emoção da chegada de Felipe Dayrell. Foto: Ricardo Andrade

A emoção da chegada de Felipe Dayrell. Foto: Ricardo Andrade

Idade 37 anos
Peso 69 kg
Altura 1,71 mts
Apoios e patrocínios: HF treinamento Esportivo, Vibe to Run e Minas Tenis Clube

Redação

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