Ariane Monticeli divulga carta aberta sobre o doping

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Brasileira foi flagrada em exame antidoping realizado no Ironman 70.3 Buenos Aires. Confira na íntegra sua carta enviada à imprensa:

 

“Tudo o que vou contar aqui, não irá justificar meu erro. Mesmo assim vou descrever o que realmente aconteceu e o porquê.

Tive um ano de 2015 muito bom na minha carreira, onde venci provas de Triathlon Olímpico, meio ironman, ironman e Campeonatos Brasileiros.

Em 2016 enfrentei inúmeros problemas. Problemas mecânicos no ironman Florianópolis, pé quebrado na largada do ironman de Zurich, falecimento da minha mãe, atropelamento 14 dias antes de campeonato Mundial em Kona no Hawaii. Foi um ano ruim, como um todo, e os resultados foram reflexo disto.

Em 2017, eu mais do ninguém me cobrava resultados. Sucumbindo à essa pressão e não admitindo voltar a ter um novo ano ruim, resolvi fazer uso de EPO para a minha primeira competição de meio ironman do ano. Como isso se deu:  dentro da minha cabeça, eu repetia “eu preciso vencer”, mas eu sou testada constantemente, tenho passaporte biológico, o que fazer? Fui a Internet, pesquisei a compra de EPO. Pesquisei como aplicar, em quanto tempo sai do organismo e por aí vai… Quando se toma uma decisão dessas você não conta à ninguém. Eu assumi o risco, mesmo sabendo o que poderia acontecer, por vários motivos: egoísmo, vaidade, preocupação.

Vou detalhar exatamente como aconteceu, não porque eu queira que as pessoas tenham pena ou que se solidarizem, mas para que aprendam como eu estou aprendendo, só que dá pior forma.

A primeira coisa que acredito que alguém vá pensar e falar: “Ela só está falando porque foi pega, do contrário não estaria falando e tudo passaria por isso mesmo” Sim. Se não tivesse sido pega, eu não falaria e teria aprendido minha lição quieta.

 

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Não fiz um “ciclo” tomei e acreditei que sairia rápido do organismo.
EPO não é receita de bolo. Não mudou em nada minha performance. Não venci o meio ironman de Buenos Aires, não fiz nada de diferente do que sempre fiz em provas, fiquei frustrada, porque “tinha” que vencer. Ano passado fiz um tempo melhor do que na prova deste ano inclusive. Pensei ok, risco alto para zero benefício. Fiz outra prova, o ironman África do Sul no dia 2 de Abril. 11º lugar. Estava pouco treinada até o momento. Tempos condizentes ao estágio que me encontrava. Fui submetida a outro teste no dia 4 de Abril. Sangue e urina, como sempre.

Após ter usado e me arriscado em vão, lógico que me arrependi. Prova disso, nada demais no ironman da África do Sul e resultado do teste negativo. O que quero deixar claro, é que foi pontual. Não faço uso de substâncias ilícitas, até porque faço testes desde de 2014.

Quando recebi a notícia, meu técnico e pessoas que treinam comigo tiveram a mesma reação: “não se preocupe, está errado, vamos te defender até o fim”. Daí minha vergonha. Como falar que o resultado estava correto para as pessoas que gostam de mim, que acreditam em mim?

Fiquei mergulhada numa dor tão profunda que tentei tirar minha vida. Sei que é muito forte falar sobre isso e repito que não estou dizendo isto para me vitimar. Exponho-me dessa forma para que meu erro, ao menos, sirva de exemplo, ou para que, se alguém intente fazer isto algum dia, coloque-se em meu lugar. Espero que eu possa, mesmo com essa merda toda, ajudar alguém.

 

 

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Não via nada nem ninguém, só sentia vergonha. Depois de 3 dias nesse estágio psicológico, comecei o processo da verdade. Contei ao meu pai, ele disse: “não foi essa educação que eu te dei”. Entre muitas outras coisas, minha irmã não mediu esforços para tentar me “salvar”, contei ao meu técnico, que ficou em estado de choque. Disse que colocaria a mão no fogo por mim e disse que eu não precisava disso. Falei ao diretor do Triathlon do Pinheiros, que se mostrou indignado, traído, não aceitando de forma alguma essa situação.  Meu namorado até aquele momento, simplesmente não acreditou e se sentiu traído. Amigos pessoais ficaram imensamente tristes, mas para a minha surpresa eu, que já tinha me julgado e sentenciado, e achava que minha vida não valia de mais nada, tive apoio de todos.

Todos entendem a situação. Estão ao meu lado de forma humana, mas de forma alguma aceitam essa conduta e com isso sofrerei as sanções de cada contrato. Entendem que serei julgada e que isso só cabe a Wada e a CBTRI fazerem.  Compreendem que irei sim pagar pelo meu erro, assim como todo mundo que um dia já errou. Quero deixar claro que ninguém aprova isso e que estão todos muitos tristes e decepcionados. Meu pai sempre disse que “não existe inferno”, e que “tudo o que você fizer de errado vai pagar em vida”. Acredito que esse seja o processo de evolução humana.

Mergulhada no meu egoísmo, não percebi quantas pessoas eu iria magoar com esse meu ato. Mergulhada na minha vaidade, coloquei minha carreira no lixo.
Eu precisei passar por isso para vir aqui e falar que não é a vitória, não é o vencer uma prova que é o que realmente importa. O que importa é todo o caminho que te fez chegar lá.

Quando venci o ironman Florianópolis, o mais importante foi lembrar e pensar tudo o que havia passado para chegar à esse resultado. Meu começo, minha batalha diária, a batalha do meu técnico, que no momento está completamente arrasado.

Estou vindo aqui para demonstrar, em exemplo vivo, que o uso de recursos ilícitos é ilusão. Que quando você deitar sua cabeça no travesseiro, você e Deus sabem a verdade, e quando se faz algo errado, em algum momento se paga a conta.  Muita gente virá aqui  me xingar e execrar. O que eu fiz foi errado. Foi uma grande burrice. O que eu fiz não é só ruim pra mim, é ruim para o esporte, é ruim para o Triathlon brasileiro e é ruim para o Triathlon mundial. Independente dos motivos que eu tive. Hoje eu tenho uma posição imensa no Triathlon brasileiro e isso vai refletir e repercutir de uma forma muito ruim por muito tempo. Estou aqui para mostrar a todos tudo o que eu estou perdendo, todas as consequências que eu irei sofrer com isso, e que sirva de exemplo para quem usa e para quem pensa em usar. Se eu puder dar um conselho: Não Faça!!!!! Eu me ferrei e não melhorei em nada. Fui estúpida ao ponto de achar que não faria o teste, mesmo sendo testada a toda hora. Fui estúpida ao me enganar. É muito fácil se ter acesso ao medicamento. Perdi muito com isto e me arrependo demais.

 

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Quero deixar bem claro! Fiz isso sozinha. Quando se faz uma coisa que sabidamente é errada, não se conta a ninguém. Meu técnico,  minha equipe técnica, meus amigos, ex- namorado, família, absolutamente ninguém tem nada a ver com isso. Escondi de todos. Achei que tinha que acabar com minha vida, tamanha a vergonha, mas as pessoas que realmente me amam, me fizeram enxergar de maneira diferente. Tenho muita vida ainda pela frente, muitas possibilidades. Serei julgada e minha pena pode chegar a 4 anos de suspensão. Eu sinceramente, não penso em voltar. Vou fazer faculdade ou talvez vá morar fora, mas estou aqui disposta a colaborar, a enfrentar meu erro, assumir, a mostrar que isso não leva a nada e que só se tem a perder.

Sei que muitos ficaram extremamente decepcionados. Essa é a primeira reação. Recebia muitas mensagens de pessoas que se diziam inspirar-se em mim e me ver como exemplo.

Quero pedir desculpas a todos: ao Triathlon nacional e mundial, a minha família, amigos, equipe técnica e patrocinadores.
Exclui todas as minhas contas nas redes sociais porque acredito que não precise de mais julgamentos do que os que terei, por quem de Direito.”

Sinceramente,
Ariane Monticeli

 

 

 

Rabbit

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