ANTIDOPING: Entenda como funcionam os exames


Os exames antidoping dos Jogos de 2016 e de todas as competições da temporada serão guiados por uma atualizada lista de substâncias proibidas, elaborada pela Agência Mundial Antidoping (Wada) e que entrou em vigor no dia 1º de janeiro. A versão em português, tradução da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), órgão vinculado ao Ministério do Esporte, também já está disponível para consulta. Que remédios um atleta pode tomar? Quais são proibidos? Existem alimentos que não podem ser consumidos? As respostas estão nos documentos.

Exames antidoping têm sido realizados nos eventos-teste dos Jogos Rio 2016 e também serão aplicados nas competições olímpicas e paralímpicas. O trabalho é de responsabilidade da ABCD, em parceria com o Comitê Rio 2016. “Nos Jogos, nós forneceremos a estrutura. A ABCD entra com o pessoal”, explica Eduardo De Rose, gerente geral dos Serviços de Controle de Doping dos Jogos Rio 2016. “Vamos fazer aproximadamente 5.500 controles de doping durante os Jogos”, calcula.

A princípio, segundo o gerente, mais da metade da equipe que vai trabalhar no Rio 2016 virá do exterior. O procedimento, acrescenta ele, é normal por causa do porte da operação dos Jogos Olímpicos, maior do que a de qualquer outro evento esportivo. “Vai vir gente da Europa, Américas, Ásia, África e Oceania para trabalhar ao lado dos brasileiros”, conta De Rose. Os procedimentos seguem as recomendações da Wada, que padronizou as regras para análise em todo o planeta.

Regras

É considerado um caso de doping quando um atleta compete utilizando substâncias ou métodos proibidos – em geral, para melhora do desempenho. Todos os atletas podem ser submetidos ao exame. Usain Bolt, Michael Phelps ou um atleta do país com a mais modesta tradição olímpica podem ser chamados a qualquer momento para coleta de amostras, que podem ser de sangue ou urina. Eles têm a obrigação de atender à convocação, ou ficam sujeitos a severas punições, seja suspensão de participação em competições ou a anulação de resultados em eventos já realizados.

Quanto mais bem-sucedido o atleta, mais analisado ele será. A Wada tem uma lista de destaques do esporte mundial que são monitorados de perto e podem ser submetidos a exames surpresa. Eles precisam comunicar regularmente à entidade máxima de controle de dopagem onde estarão.

Para garantir que todos sejam avaliados da mesma forma e que as amostras não corram risco de contaminação, a Wada estabeleceu um método de trabalho chamado cadeia de custódia, com regras a serem observadas por atletas, escoltas, agentes de controle de doping. Se os atletas têm obrigação de realizar os exames sempre que solicitados, os oficiais de doping e técnicos precisam colher, transportar e analisar amostras de forma adequada – ou o resultado pode ser anulado, e fiscais e laboratórios, punidos.

Como funciona

A análise em competição começa quando o atleta é notificado pelo oficial de escolta de que ele foi escolhido para participar do exame antidoping. A partir daí o oficial não pode mais perder o analisado de vista até que ele entre na área de coleta de amostras – muitas vezes o oficial acompanha o escolhido em cerimônias de premiação, entrevistas ou outros compromissos pós-competição. O procedimento pode ser maçante: podem se passar horas até que o corpo consiga produzir uma amostra de urina.

Quando o atleta chega à área da coleta de amostras, ele deve preencher um formulário e fornecer seu sangue ou urina para análise. No caso do sangue, ele é retirado com a seringa e colocado em dois frascos. No caso da urina, o analisado vai até o sanitário. Ele tem de urinar na frente de um fiscal (do mesmo sexo) e também encher dois frascos. Os oficiais não tocam nos frascos até que eles sejam fechados pelo atleta. Os recipientes são identificados por código de forma que quem faz a análise no laboratório não sabe a quem pertence a amostra. O material é acondicionado em local protegido e transportado até o laboratório. Um frasco é usado para análise. O outro, guardado para a eventual necessidade de contraprova.

Se o atleta for convocado para fazer o exame em casa, ou no local de treino, o procedimento é praticamente o mesmo. A partir do momento da convocação, o atleta não poderá ficar longe dos olhos da escolta sob nenhuma hipótese. Porém, se ele quiser fazer atividades da sua rotina, como terminar um treino, tomar café da manhã ou assistir TV até que tenha condições de fornecer uma amostra de urina, o oficial deve esperar pacientemente.

As amostras dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos serão analisadas no Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (LBCD), credenciado pela Wada, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O LBCD foi totalmente reformado e recebeu equipamentos de ponta, já sendo um dos importantes legados dos Jogos Rio 2016 para o Brasil.

Teste positivo

Em caso de resultado positivo, a entidade responsável pelo exame é notificada e, então, é conhecida a identidade do atleta flagrado. Ele tem direito à defesa e a pedir o exame da contraprova, que é a análise do conteúdo do segundo recipiente com amostra de urina ou sangue coletado no dia do exame antidoping.

O atleta não pode alegar que se dopou por engano ou que consumiu um alimento contaminado sem saber. Ele é responsável por tudo o que consome. Segundo a ABCD, dizer que não houve intenção, culpa, negligência ou qualquer outra justificativa não elimina a violação das regras antidopagem. No entanto, a prova de que a contaminação não foi proposital pode diminuir a punição.

É raro que uma amostra seja contaminada depois da coleta do exame. Se ficar comprovado que a cadeia de custódia não foi obedecida, o exame pode ser anulado e o atleta, inocentado. Fiscais e laboratórios podem ser punidos.

Substâncias permitidas

Em caso de doenças, o atleta deve tomar cuidado com os medicamentos que toma para não recorrer a substâncias proibidas. A Wada divulga anualmente uma lista do que não é permitido, e os competidores precisam prestar atenção para não utilizar nada que faça parte da lista. Entre as proibições estão também substâncias que não causam melhora no desempenho, como os diuréticos, mas que podem mascarar o uso de algum item proibido.

Se o remédio necessário para um tratamento for proibido, e não existir uma opção substituta que seja liberada pela Wada, o atleta pode solicitar uma Autorização de Uso Terapêutico (AUT). Quando concedida, ela permite ao atleta utilizar um remédio que consta na lista da Wada. Na autorização constarão a dosagem e o número de dias em que o atleta vai usar o remédio.

Fonte Rio 2016

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